Interseções teóricas entre Hugo Munsterberg e Rudolf Arnhein

Arthur Cesar Lanza
Drance Jesus Bonfim
Joyce Ipiranga
Lorena Lopes
Pedro Victor Gonçalves
Valdenise Costa 
Hugo Munsterberg e Rudolf Arnhein, tidos como dois dos primeiros teóricos do cinema.


Hugo Munsterberg

Hugo Munsterberg foi um psicólogo alemão, aluno de Wundt. Descobriu o cinema em 1915 e um pouco por acaso. Ele enxergou muito além de seu tempo ao prever futuras correntes teóricas que envolvem a recepção do espectador e seu papel de processo de produção do filme. Durante um mês, Munsterberg viu filme após filme e em 1916, publicou a obra sobre o cinema: “The Photoplay, a psychological study”. 

Esse livro não é apenas um tratado psicológico, divide-se em uma estética e uma psicologia do cinema, e ele era proeminentemente qualificado nas duas áreas. Tem a primeira parte que estudam em uma perspectiva quase cognitiva antes do tempo, os traços essenciais das atividades espectatorial, que se torna durante projeção uma construção de profundidade imaginária, a percepção de um movimento aparente, que existe a variabilidade da atenção e meios para direção do filme; o acionamento da memória, imaginação e as próprias emoções. Na segunda parte, esboça uma estética para o cinema. A arte é definida, não pela imitação e sim pela transformação do mundo em beleza, um ideal bem clássico. 

O estudo psicológico de Munsterberg começa com uma análise das ilusões de profundidade e movimentos contínuos criados a partir da projeção descontínua de fotografias estáticas. O cinema é “mostrado como um conflito significativo de ações humanas nas imagens móveis, que liberta das formas físicas do espaço, do tempo e da causalidade”. Ele adotava uma atitude bem desconfiada da utilização de letreiros e outras menções escritas, assim como de música de acompanhamento que prejudicava a pureza dos meios artísticos. 

Para Munsterberg, o cinema é mera insignificância sem uma narração, é só quando se coloca em funcionamento a capacidade narrativa das nossas mentes, se torna parte desta discussão sobre visibilidade, fantasmagoria e engajamento do observador, se inserindo também na discussão sobre as diferenças entre filme e realidade, onde a peça cinematográfica ganha vida. Argumento que a tecnologia proporcionou o corpo de novo fenômeno e que a sociedade deu vida a esse corpo forçando a desempenhar inúmeros papéis reais. 

Ele também tinha noção hierárquica da mente, que contém vários níveis, através da experiência em um deles, inclui o fenômeno Phi, que seria a retenção de estímulos visuais. Ele concebia o processo cinemático como processo mental. 

Uma demonstração do fenômeno Phi.
Munsterberg também afirmava a ‘atenção é a mais fundamental das funções internas que criam o significado do mundo exterior. Para descrever isso, classifica a atenção em ‘voluntária’, quando temos uma ideia pré- concebida de qual será o foco de nossa atenção e ‘involuntária, quando o foco da atenção e dado pelo o que percebemos. Descartava de sua análise aquilo que não reside no “conteúdo das próprias imagens”, por considerar que aquilo não é conteúdo, ainda que contribua para direcionar a atenção, funciona apenas como acessório. O poder de motivação das percepções impostas à este segundo tipo de atenção pode vir de nossas reações. O que provoca essas reações é o que assume o controle da atenção. O cinema, para ele, é arte da mente, assim como a música é do ouvido e a pintura, a do olho. O teórico em questão dá um ótimo resumo: “A peça cinematográfica conta-nos uma história humana ultrapassando as formas do mundo exterior, a saber, espaço, tempo e causalidade e ajustando os acontecimentos às formas do mundo interior, a saber, atenção, memória, imaginação e emoção”. Estes acontecimentos alcançam isolamento total do mundo prático através da perfeita unidade de modo e forma pictórica.

Rudolf Arnhein

Rudolf Arnheim foi um psicólogo alemão behaviorista vindo da escola gestaltista de psicologia e um teórico do cinema subsequente a Hugo Munsterberg, que é, inclusive, um pouco influenciador das teorias dele. Na Alemanha, Arnheim publicou o pequeno livro “Film as Art” em 1932. Ele, na primeira frase da sua obra, mostra-se interessado na questão do cinema como arte, e mais adiante apresenta o que é representado (mostrado) em uma obra cinematográfica como um “veículo”, que é, para as demais artes, o que remete ao que é representado através dele. Por exemplo, a imagem de um livro (veículo) remete a um livro na realidade. Esse veículo, para Arnheim, faz do cinema uma representação quase que perfeita da realidade. 

Porém, o cinema deixa de ser arte a partir do momento que o artista não pode interagir com o veículo, pois o veículo já está pré-definido no filme. O teórico ressalta que, o que faz do cinema arte é, também, a ausência da total cópia da realidade, já que, com os filmes da época, tudo que aparece no filme é transmitido por imagens bidimensionais, o filme era bidimensional, era reduzido o sentido de profundidade, o tamanho da imagem não era real, não havia iluminação, nem cor, não havia enquadramentos e nem continuidade espaço-temporal. 

Para ele, o desenvolvimento tecnológico tira a essência artística no cinema, tal qual a cor, a fotografia tridimensional e o som presente no filme. Se quisermos ver o que de arte tem o cinema, não devemos procurar por som, gesto ou pedra, pois nele não é apresentado nada do mundo, e, sim, um processo almejando à representação do mundo. Cinema é uma arte que, diferente de outros tipos de artes, não ganha do mundo um material para fazer arte e depois manda esse material de volta para o mundo para que faça a diferença. O cinema é algo que se deve suprimir com a finalidade de explorar cada vez mais o que ele tem de peculiar, e não apenas se satisfazer com o que é proposto. A realidade a qual vivenciamos não é em preto e branco, e o maneira a qual vemos os objetos não são distorcidos como estes são em uma fotografia, por exemplo, uma vez que o filme tem como base a fotografia. 

Se fotografarmos um tabuleiro de xadrez sob uma mesa do meio de um de seus quatro lados, a parte do tabuleiro mais próxima da câmera vai ficar maior e a mais longe, menor, dando-nos a impressão de que o tabuleiro tem a forma de um trapézio já que a fotografia é um objeto bidimensional. Porém, se olharmos a olho nu, é um pouco difícil enxergarmos de tal forma, pois, além de o tabuleiro não ter realmente a forma de um trapézio, nossos sentidos são adaptados de tal forma que percebemos as distâncias, percepções, as localizações, a memória, na qual o cérebro trabalha dando-nos uma imagem perfeita da realidade concluindo que temos uma visão que enquanto ao cérebro dá-se como uma operação mental completa, e à retina, parcial. 

No livro, Arnheim aponta que a matéria-prima do cinema está na manipulação pré-lançamento do filme, na sua tecnologia, ou seja, quando o filme ainda está sendo feito, seguindo um roteiro, quando o filme ainda está sendo editado, produzido, enfim, manipulado com o intuito de satisfazer a vontade do artista de como quer que tal obra fique, para que posteriormente possa ser mostrado às pessoas. Essa é a única forma que o artista tem como controlar sua obra. O que é representado no cinema – o veículo é algo totalmente controlado pelo cineasta. Uma vez que ele sabe o que quer transmitir e o que quer causar com essa transmissão. 

Utilizando da tecnologia, o cineasta pode dirigir o veículo e a imagem em geral restringindo a visão do espectador, como o enquadramento, por exemplo. Mas a câmera em movimento lento ou rápido, traz a nossa mente diferentes reações a esses estímulos causados por esses efeitos.A partir do momento em que o nexo é tido como uma linguagem simbólica a ser manipulado pelo artista, o artista precisa aprender a organizar esse material para que sua ideia seja representada como desejado. O nexo não é tradutor de algo ou alguém, e, sim, um tradutor que apenas traduz o que o veículo apresentado está representando. Arnheim apresenta que o cinema deixa de ser uma obra de arte quando apresenta o som, o qual tira a atenção total do espectador ao veículo. O som oferece um enredo e/ou um diálogo talvez, daí mais razões que tirariam a atenção total ao veículo.  

A partir da discussão dos teóricos sobre a representação de aspectos psicológicos no cinema travada a partir do filme "Intolerância", a equipe produziu o seguinte vídeo:



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Sobre

Espaço de discussão sobre as principais teorias do cinema, apresentando alguns de seus pensadores essenciais. Os textos são produções dos alunos do curso de Tecnologia em Produção Audiovisual da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).